Alguém nos espera no fundo de cada noite
Uma parábola, onde nenhum dos protagonistas se sai bem, todos fazem uma figura mesquinha. Primeiro o esposo que chega com um atraso exagerado e mete em crise todas as meninas que vinham à festa; as cinco raparigas insensatas que vieram sem pensar em trazer consigo o azeite para suas lâmpadas; as outras cinco raparigas mais despertas mas que não querem ajudar as companheiras; o dono do salão da festa que fecha a porta da casa, coisa que não devia fazer, pois naquele tempo toda a aldeia participava às bodas e podia qualquer um entrar e sair da casa em festa. No entanto esta parábola é muito bonita, pois o Reino de Deus é comparado a dez raparigas vestidas de festa que vão desafiando a noite, armadas só de lamparinhas de luz, quase nada, além do sorriso de sua juventude, para ir ao encontro de Alguém. O Reino dos Céus, como Deus o sonha, é semelhante a quem vai ao encontro, como dez luzes pequenas na noite, a gente corajosa que se põe a caminho e ousa desafiar a escuridão e todo atraso de um sonho; é de quem tem a espera no coração, pois espera alguém, “um esposo”, um pouco de amor e afecto na vida, o esplendor de um abraço no fundo da noite. Gente que espera, pois acredita que a vida deve ser aquilo que ainda não é, festa.
Mas aqui começam os problemas. Todas ficaram apanhadas pelo sono, insensatas e sábias. Pois o cansaço da vida de todos os dias, o esforço de furar o peso das noites, leva a nós todos a momento de desistência, de indiferença, de sono. Depressão … tempo de crise, de pandemia, de dúvida.Então a parábola nos vem confortar: haverá uma voz, um brado que nos despertará. Deus é um despertador de vidas. Não importa que eu esteja apanhado pelo sono, que esteja cansado e farto, que a espera seja longa e a fé parece flor que murcha. Virá uma voz, virá na plena noite, mesmo quando me parece de não conseguir mais aguentar, e então: “não tenhais medo”, pois será Ele mesmo a vir ao encontro, a atravessar o abismo.
O ponto de encontro da parábola está todo na alternativa: ou uma vida a apagar-se ou uma vida a arder. E por isso a faísca no alto, o inesperado da parábola, é aquela voz na escuridão da meia noite, capaz de despertar à vida duma nova aurora. Eu não sou a força da minha vontade, não sou a minha capacidade de resistir ao sono, mas posso ter tanta força quanta me é dada por aquela Voz, que, ainda atrasada, com certeza virá, a despertar a vida em todos os desconfortos, para me consolar dizendo que Ela não está cansada de mim, e para propor-me um mundo cheio de encontros e luzes. A mim precisa um pequeno frasco de azeite. O Evangelho não diz em que consista aquele azeite misterioso. Talvez seja aquela ansiedade, aquela coragem que me leva a sair e ir ao encontro dos outros, ainda que seja noite. A vontade de superar distâncias, quebrar solidões, inventar comunhões. E, acima de tudo, acreditar na festa, pois desde o momento que Deus me mete na vida me con-vida as bodas com Ele. O Reino é um azeite de festa: acreditar que no fundo de cada noite nos atende um abraço infinito.
- Ronchi – Avvenire – PC.