Homilia do 2º Domingo de Páscoa – 19/04/2020 (Padre Geraldo Finatto, Pároco)
Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 19-31)
Pelo fato de estarmos em confinamento a mais de um mês, certamente faz-nos ouvir os textos deste 2º domingo de Páscoa de uma maneira diferente. Isto mostra-nos que os textos bíblicos falam-nos de acordo com o tempo em que os ouvimos e o contexto em que os lemos. A palavra de Deus é viva.
A leitura dos Actos dos Apóstolos fala da primeira comunidade cristã: Eles tinham tudo em comum, vendiam seus bens e posses e partilhavam os lucros entre todos de acordo com as necessidades de cada um. Faz-me lembrar milhares de pessoas que neste tempo estão inventando e realizando novos gestos de solidariedade para enfrentar juntos este vírus, para apoiar aqueles que estão na linha de frente a cuidar incansavelmente dos doentes. Pode-se dizer, como São Lucas no texto dos Actos dos Apóstolos que acabamos de ouvir: “Graças aos muitos sinais e maravilhas realizados por alguns, há uma verdadeira comunhão fraterna”.
Na segunda leitura, Pedro agradece a Deus “que nos faz renascer através da ressurreição de Jesus Cristo”. É o que está a acontecer. Eu acredito que Deus tem tudo em suas mãos. Não que Deus tenha causado esse enorme problema mundial, (Deus não envia vírus), Deus não castiga ninguém, mas acredito que Ele é capaz de fazer com que esta crise nos sirva e nos faça abrir os olhos para o essencial, para percebermos que outro mundo é possível, mais justo e mais humano onde os mais frágeis são servidos por primeiro e onde o dinheiro esteja ao serviço de todos, sem distinção.
Mas como ousar dizer isso quando vemos centenas e centenas de mortos e doentes? É uma questão de fé, essa palavra que aparece 5 vezes na curta passagem que ouvimos! Sim, é uma questão de acreditar, não com base no que vemos, mas com base no que esperamos. É o que São Pedro diz: “Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações.” A fé leva-nos a crer que este mundo tal como Deus o quer esteja acontecendo e que todas essas dores sejam necessárias para que uma nova vida aconteça!
Sim, o melhor está para vir, eu acredito e acredito firmemente que esta crise nos fará crescer. O povo hebreu, ao deixar o Egipto onde era escravo, deve ter tido uma grande fé para ousar deixar seu mundo e caminhar pelo deserto rumo a uma terra prometida da qual ele nem tinha ideia daquilo que podia ser.
Para resistir durante esta passagem da quarentena devemos ter fé! Tempo de deserto é um tempo para aprender a confiar, mudar nossa maneira de fazer as coisas e nos preparar para outro modo de vida.
Crer também é o que diz e pede Jesus a Tomé no Evangelho deste dia. Ele também está confinado com seus discípulos, confinado por medo não de um vírus, mas dos judeus. É destes medos que Jesus vem libertar-nos: “Jesus veio e colocou-se no meio deles”. Ele está no meio de nós.
Como sempre, Jesus chega quando menos esperamos! Ele faz-se convidar para estar connosco nos nossos medos, nas nossas provações, nas nossas dificuldades e diz-nos “A Paz esteja convosco”. Oh, quanto precisamos dessa paz neste momento.
Mas Tomé precisa de provas, ele necessita ver que a ressurreição seja concreta, tangível, real. Então Jesus mostra-lhe as cicatrizes de suas mãos e seu lado, são provas visíveis de que se pode passar por tempos extremamente difíceis, até mesmo a morte, mas sair vivo! Sim, feliz de ti Tomé que acreditaste porque viste, mas mais felizes ainda os que acreditam sem terem visto”. É para isso que a fé serve: ela permite-nos esperar pelo que ainda não é visível porque confiamos na promessa de Deus que quer conduzir-nos ao seu Reino. Jesus sopra sobre os discípulos e este sopro é para lhe dar o Espírito Santo.
Hoje o nosso olhar volta-se uma vez para a primeira comunidade cristã: Como ela somos convidados a viver sobre três pilares:
Fidelidade no ensino dos Apóstolos para aprofundar a nossa fé e permitir que o Evangelho transforme nossas vidas.
Fidelidade à comunhão fraterna, partilhar os bens com os mais necessitados.
Fidelidade à fracção do Pão: isto é a Eucaristia. É na Eucaristia que a Igreja encontra e re-constrói sua unidade.
Fidelidade à oração, individual, em família e em comunidade.
Que o Espírito de Deus faça de nós homens e mulheres corajosos em dar testemunho e nos faça generosos na prática da caridade fraterna.