Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido
Esta é uma palavra que soa como uma censura. É muito semelhante a outras encontradas na Bíblia, especialmente em alguns salmos; Deus é repreendido por seu silêncio e ausência.
Culpar Deus não parece estar correto. Neste caso, esquecemos que nosso Deus é aquele a quem podemos dizer tudo, até mesmo palavras de censura e incompreensões. Vivemos num mundo que sofre por causa do coronavírus e dos medos que vêm com ele.
E perguntamo-nos: “Onde está nosso Deus? O que ele está a fazer”
Este grito de revolta já é uma oração. Nosso Deus é alguém a quem podemos confiar nosso sofrimento. Ele não é um Deus distante e ausente e que não vê certas coisas a acontecer. Podemos confiar-lhe nossos medos e perguntas que nos incomodam. Quando as coisas dão errado, podemos sempre falar com ele.
O salmo deste domingo diz-nos:
Do profundo abismo, clamo por vós, Senhor, Senhor, escutai a minha voz; estejam vossos ouvidos atentos à voz da minha suplica.
Hoje vemos Marta e Maria culpando Jesus por não estar lá para evitar a morte do irmão Lázaro. Jesus tinha sido avisado há vários dias da doença e da morte de seu amigo. Chegando ao túmulo, Jesus chorou. Como nós, ele sente dolorosamente a morte de um amigo ou parente.
Mas através deLázaro, é também a angústia de toda a humanidade que ele vê e sente, a de todos aqueles homens, mulheres e crianças que sem encontram mergulhados na miséria e que não têm mais o mínimo para sobreviver.
Neste dia, dirigimo-nos a ele e pedimos que nos dê um coração semelhante ao dele, sensível à dor dos outros. Se queremos melhor compreender este Evangelho, devemos levar em conta todas as nossas perguntas sobre o sofrimento e a morte. Talvez estamos demais habituados com este Evangelho. Já o ouvimos centenas de vezes. Sabemos o fim da história. Sabemos que Jesus fará algo e tudo voltará ao normal. Lázaro voltará a viver, ele retomará suas atividades, encontrará suas irmãs, seus amigos. Mas um dia, ele morrerá novamente.
O Evangelho deste domingo não apresenta esse gesto de Jesus não como um milagre, mas como um sinal. Além da recuperação de Lázaro, ele fala a nós; É uma mensagem de esperança. Nele, é o Deus dos vivos que se revela ao mundo. Neste dia, ele faz-nos ouvir seu apelo: “Lázaro,vem para fora!”;
Hoje, é também para cada um de nós que ele se dirige: “Vem para fora!”; Ele chama-nos pelo nome para renovar este apelo:”Vem para fora… Eu te liberto de tuas amaras… Eu faço respirar um novo ar… Não é mais o ar de túmulos e dos cadáveres, mas um ar puro, aquele onde vivem os homens”. Esta promessa de uma nova vida não é só para depois de nossa morte, mas para hoje.
É hoje que Lázaro acorda e voltará à vida com os outros. Mas o Senhor conta connosco para remover a pedra. Esta pedra é a do nosso egoísmo e de tudo o que impede de nos aproximar de Deus e dos outros. Cristo conta connosco para participar neste trabalho de libertação. Pensamos em todos aqueles que são oprimidos, semt rabalho, famintos; nestes dias, nossa atenção vai para todos os atingidos pela epidemia e seus familiares.
Acreditamos que o Senhor pode abrir esses túmulos. Mas também sabemos que sua palavra e sua ação passam por nossos compromissos. O Senhor está presente. Ele quer tirar de nós todo o medo, o desespero e a discórdia. Ele é o Deus libertador. Com ele, entramos no tempo da ressurreição. De agora em diante, tudo se torna possível novamente porque ele nos faz compartilhar sua vida.
É por isso que ele se entrega a nós na Eucaristia.
Padre Geraldo Finatto, Pároco