Caros amigos e amigas, hoje repete-se o acto criador. A saliva de Deus, úmida e quente… viva, mistura-se com o barro informe, cego. Deus modela a sua obra. O Deus oleiro tem uma visão para dar ao nosso olhar…
Interpelações d Palavra:
“Jesus encontrou um cego de nascença
O olhar é uma questão de direcção e de intensidade. O de Jesus descortina, por debaixo da figura do pobre cego, um homem pronto a nascer. Deus vê misericordiosamente além da superfície, olha com o coração para ver o coração. Não é o homem que procura e vê Deus; é Deus que nos contempla amorosamente, desejando que O possamos ver. Quando encontra as trevas, o Mestre inicia uma liturgia de vida e repete, no rosto dos cegos, os gestos da criação de um Deus atento a recriar o homem. O céu de Deus continua hoje a amassar-se com a nossa terra, e as mãos do oleiro acariciam as nossas cinzas, fecundando-as com o fulgor da sua luz.
A visão de um cego
O cego de nascença não se arrasta em lamúrias, não procura explicações para a sua desgraça, não deita culpas pecaminosas sobre alguém. Espera apenas palavras orientadoras e mãos compassivas que possam acrescentar algo aos seus olhos apagados. É um homem sem voz e sem nome, que deixa os dedos do Mestre enchê-lo de lodo e de beijos, modelando nele os olhos do homem novo. É alguém que confia, de olhos fechados, que deixa a voz do Verbo acariciar-lhe a vida, que permite à Luz rasgar-lhe a noite interior. Ainda de olhos vazios, acende-se no seu íntimo uma esperança que o põe a caminho. Junto da piscina associará, pela primeira vez, vozes e rumores a rostos e imagens que nunca tinha visto. Depois procurará aquele homem, Filho de Deus, o “Senhor” com voz de primavera, capaz de gestos renovadores e criadores de mais vida.
A cegueira de tantos olhares
Quem estava antes na periferia da vida é agora o centro das atenções. Um carrossel de cegos gira à volta da sua história à procura das areias que atrasam a vida, sem tirar primeiro as próprias traves que impedem de ver o milagre. Os fariseus, blindados em teorias, não entendem o detalhe que faz desabrochar a esperança.
Ontem como hoje, procuram-se explicações e quem errou, mas poucos sentem dor nos olhos desabitados dos cegos, poucos se deixam encantar por novos olhares burocratas de ideias mas analfabetos do coração; defensores de doutrinas mas indiferentes à dor; crentes sem coração, não vemos as pessoas e os sinais que Deus realiza. Jesus, porém, não se enreda a procurar culpas ou justificações para a doença. Ele é a compaixão, a mão viva que toca o coração, o arco-íris que colore um mundo novo. Enquanto o Senhor ungia e curava o cego, abria também secretamente os olhos de outros cegos e limpava-lhes a cegueira do seu coração (S. Efrém). No fim, o cego torna-se discípulo, de olhos enamorados e coração aberto. Agora, diante de todos, é ele que dialoga, contagia e testemunha os prodígios que Deus realiza nele…torna-se um foco de Evangelho!
José Caldas das Neves, Maria da Conceição Borges, Tânia Pires
Vivera a Palavra
Vou procurar ver tudo o que me rodeia com olhos de fé, procurando acolher, valorizar e iluminar!